quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Doces contradições

Flávia vai ter um bebê.
Flávia, profissional competente, ocupada e envolvida com seu trabalho, dizia que nunca teria filhos.
Flávia está feliz.
Luciana sempre riu dos meus projetos de casamento, papel passado, cerimônia, festa.
Luciana se divertia com a imagem de uma noiva vestida de suspiro e sempre afirmava que aquilo não combinava com ela.
Casei sem vestir branco.
Luciana casou na igreja e estava linda em seu longo e tradicional vestido de noiva.
Luciana estava feliz.
Nunca. Sempre. O definitivo que não existe.
E as doces (e bem-vindas) contradições.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Brisa às sextas

Pela janela, sente soprar a brisa morna que confirma a primavera. Aquela brisa que justifica a classificação do país tropical úmido. A mesma brisa que embaraça os cabelos e se mistura com a maresia, numa dança que invade a pele. Leve. Sobre a mesa, a caneca ainda carrega vestígios do café da manhã. Esquecida? Lapsos de uma vida corrida. Mas não tem problema, hoje é sexta-feira.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Restos

A toalha de rosto não era trocada há duas semanas, mas ninguém parecia se importar com isso. Os respingos de pasta de dente ressecados no espelho reforçavam a sensação de abandono. Sentada sobre o tampo do vaso, olhava as manchas de mofo esparramando-se pelo teto, abraçando as paredes e apropriando-se do espaço. Aquele espaço que já fora de risos, suspiros e promessas. Agarrada aos seus próprios joelhos, sentiu os dedos dos pés, abrigados por meias surradas. Há quanto tempo não fazia um banho de creme naquele cabelo?
Desde que ele passou a chave pela porta, levando meia dúzia de pertences, perdera a vontade de tomar leite. Também já não devorava as geleias nem arriscava abrir o pote de biscoitos, que a essa altura estariam murchos, passados. Também ela vivia de passados.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Noite longa

Presa no congestionamento,
numa noite chuvosa
avisto ao longe a lona do circo
E penso: a palhaça sou eu.

Olho para os lados
e vejo motoristas solitários
pacientes sem paciência
Apinhando-se em toneladas
de motor e lataria.
Sós.
E penso: palhaços somos nós.

Mais sobre o caso Maria Rita

O óbvio se confirmou e Maria Rita Kehl foi demitida do Estadão. Esse jornal que diz defender a liberdade de imprensa. Esse jornal que reclama por sofrer censura.
Ela mesma explica o que não tem explicação, em entrevista aqui.
Lamentável.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Caso Maria Rita

Pessoal,
Está circulando na internet uma informação importante de que a Maria Rita Kehl estaria ameaçada de ser demitida do jornal Estadão _ para o qual escreve semanalmente, no Caderno 2 _ por ter escrito um artigo entitulado Dois pesos, em que elogiava o Bolsa Família, do governo Lula. Corajosamente, Maria Rita aponta os fatores positivos desse programa social, contrariando os interesses do jornal, que esse ano declarou oficialmente apoio ao candidato José Serra.
Ironicamente, o jornal tem posado de vítima de censura, em que estaria impedido de divulgar notícias sobre a operação Boi Barrica, envolvendo o filho do senador José Sarney.
Que liberdade de imprensa é essa que os veículos de comunicação brasileira defendem? Parcial, que só vale para divulgar o que é interessante para eles?