Aos 13 anos de idade, eu tinha um grande amigo. Nós nos dávamos tão bem que nos apresentávamos como primos. Construindo um grau de parentesco desejado por nós. Três anos mais velho do que eu, ele já era "gente grande" ao meu olhar. Eu tirava vantagem disso, deixando-me ser apresentada aos seus amigos _ ou seja, os meninos mais velhos (e cobiçados) da escola. Para mim, apenas uma demonstração inocente de poder. Aquele poder que tem uma piveta que já circula entre os rapazes e moças mais "maduros". Sem consequências.
Certo dia, o amigo deixou de falar comigo. Eu voltava de um fim de semana animado na casa de uma prima e não entendi a recusa em me cumprimentar. Tentei diálogo, sem sucesso. Adolescente plena, chorei abraçada ao cãozinho de pelúcia, enquanto ouvia baladinhas cantadas em inglês no programa de rádio. Escrevi cartas e pedi para entregá-las, mas ele sequer as lia.
Numa aula de português, o professor pediu uma redação e contei essa história. Ele achou graça e, ao lado da nota, fez uma observação de que o tempo trataria de cuidar daquele problema.
Dezoito anos se passaram. Ele se casou, teve filhas lindas e seguiu sua vida. Não se tornou publicitário nem desenhista, apesar de suas habilidades e do que imaginávamos para seu futuro. Eu, ao contrário dele, segui o sonho profissional almejado na adolescência e me tornei jornalista. Também casei, formei uma família linda, construí novas amizades.
Dia desses, nós nos encontramos num congresso. Eu tomava um café com uma colega de trabalho, no intervalo de uma palestra, quando ele se aproximou. Disse oi, sorriu, perguntou se eu estava bem. Retribuí, sem esconder o espanto, embora me esforçasse para demonstrar naturalidade. Não durou mais do que um minuto. Mas representou quase duas décadas da minha vida, finalmente passadas a limpo.
Naquela tarde, respirei mais aliviada.
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