quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Feliz Natal!


(O Nascimento, de Barocci. Acervo do Museu do Prado - Espanha)

Cuidemos de 2011 como uma mãe que se dedica ao filho recém-nascido: com paciência, afeto, pulso firme, quando é necessário, e muito amor, que nunca é demais.
Boas Festas!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Visita do Papai Noel

Ontem chegou meu presente de Natal.
Veio nas mãos de um entregador, que deixou na portaria do prédio.
Fiquei incrivelmente tocada quando o porteiro se aproximou, debaixo de uma garoa fina, para entregar aquele pacote super embrulhado, que eu abracei dando saltinhos. Segurei a ansiedade enquanto esperava pelo elevador. Assim que entrei no apartamento, corri para pegar a tesoura e desembrulhei o presente, que eu havia comprado poucos dias antes, pela internet.
Só então me caiu a ficha da razão pela qual gostava tanto de compras pela internet.
É a sensação de que o Papai Noel, ele próprio, havia entregue meu pedido!
É como se eu tivesse lhe enviado uma cartinha e ele, prontamente, me atendesse, por ter sido uma boa menina.
Por alguns minutos, revivi a sensação da infância e a euforia de ser atendida. Momentos de prazer em meio ao caos.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Falta pouco

Tenho sono.
As pálpebras pesam, as mãos estão sempre frias. A energia do corpo se concentra para me manter acordada.
Como.
Pedaços de pão um tanto ressecados, lambuzados de manteiga e geleia. Não me parecem saborosos.
Acordo
antes do despertador. Ansiedade que me persegue nesses momentos finais de 2010. Vontade de férias, de praia, pouca roupa. Desejo de admirar as costas nuas do meu homem. De flagrá-lo olhando fundo nos meus olhos.
Contagem regressiva. Restam apenas dez dias.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Fim do ano

Tenho me especializado em cafés da manhã de semáforo.
Sabe como é? Você dirige, você para, você come. Farol abre, você dirige. Daí você para, você come...
Só espero que seja por pouco tempo.
Ministério da Saúde não adverte, mas deve fazer mal à dieta equilibrada.
Equilíbrio, aliás, é algo cada vez mais almejado no momento.
Alguém aí tem de sobra?

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Deixa chover

Hoje o dia amanheceu chorando.
Começou com um soluço contido, algumas lágrimas escapando-lhe dos olhos, esparramando-se pelo concreto.
Logo o lamento evoluiu para um choro em prantos. Não daqueles desesperados, tempestuosos, mas daqueles choros conformados.
Cinza era sua face e assim ficou.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Passado a limpo

Aos 13 anos de idade, eu tinha um grande amigo. Nós nos dávamos tão bem que nos apresentávamos como primos. Construindo um grau de parentesco desejado por nós. Três anos mais velho do que eu, ele já era "gente grande" ao meu olhar. Eu tirava vantagem disso, deixando-me ser apresentada aos seus amigos _ ou seja, os meninos mais velhos (e cobiçados) da escola. Para mim, apenas uma demonstração inocente de poder. Aquele poder que tem uma piveta que já circula entre os rapazes e moças mais "maduros". Sem consequências.
Certo dia, o amigo deixou de falar comigo. Eu voltava de um fim de semana animado na casa de uma prima e não entendi a recusa em me cumprimentar. Tentei diálogo, sem sucesso. Adolescente plena, chorei abraçada ao cãozinho de pelúcia, enquanto ouvia baladinhas cantadas em inglês no programa de rádio. Escrevi cartas e pedi para entregá-las, mas ele sequer as lia.
Numa aula de português, o professor pediu uma redação e contei essa história. Ele achou graça e, ao lado da nota, fez uma observação de que o tempo trataria de cuidar daquele problema.
Dezoito anos se passaram. Ele se casou, teve filhas lindas e seguiu sua vida. Não se tornou publicitário nem desenhista, apesar de suas habilidades e do que imaginávamos para seu futuro. Eu, ao contrário dele, segui o sonho profissional almejado na adolescência e me tornei jornalista. Também casei, formei uma família linda, construí novas amizades.
Dia desses, nós nos encontramos num congresso. Eu tomava um café com uma colega de trabalho, no intervalo de uma palestra, quando ele se aproximou. Disse oi, sorriu, perguntou se eu estava bem. Retribuí, sem esconder o espanto, embora me esforçasse para demonstrar naturalidade. Não durou mais do que um minuto. Mas representou quase duas décadas da minha vida, finalmente passadas a limpo.
Naquela tarde, respirei mais aliviada.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Bolo de coco da infância

Esse era meu segundo bolo preferido da infância. Perdia apenas (é claro!) para o bolo de chocolate, imbatível. Lembro bem do cheirinho de coco pela casa toda, quando o bolo ainda estava assando. E da ansiedade que tínhamos para cortar o primeiro pedaço e devorá-lo, ainda quentinho, tomando cuidado para não queimar a língua com a cobertura.
Na fase adulta, inseri essa receita na lista das "comidas que engordam", porque inclui leite condensado nos ingredientes. Reservo, portanto, para ocasiões mais coletivas, para que cada um coma um pouco, sem exagerar.
Aprendi a fazer o bolo ainda criança, quando não tinha batedeira em casa. Hoje, recorro ao eletrodoméstico, para acelerar o processo.
Vamos à receita:

Bolo de coco
Ingredientes
4 ovos
2 colheres (sopa) bem cheias de margarina
3 xícaras de farinha de trigo
2 xícaras de açúcar branco
100 ml de leite de coco
100 ml de leite
1 colher (sopa) rasa de fermento em pó

Cobertura: 1 lata de leite condensado, 100 ml de leite de coco e coco ralado para polvilhar

Preparo
Separe claras das gemas. Bata as gemas com a margarina até ficar um creme uniforme e esbranquiçado. Acrescente o açúcar e misture bem. Em seguida, coloque o leite e o leite de coco e mexa com cuidado, porque a massa ficará mais líquida. Depois, é a vez da farinha de trigo. Uma xícara por vez, até tornar tudo bem homogêneo. Bata as claras em neve e acrescente à massa, com delicadeza. Por fim, junte o fermento em pó. Asse numa assadeira untada, em forno médio, por uns 25 min. ou até que a superfície fique levemente dourada. Enquanto isso, prepare a cobertura: leve ao fogo o leite condensado com o leite de coco até engrossar. Corte o bolo em quadradinhos e jogue o creme. Conclua salpicando o coco ralado. Humm!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Doces contradições

Flávia vai ter um bebê.
Flávia, profissional competente, ocupada e envolvida com seu trabalho, dizia que nunca teria filhos.
Flávia está feliz.
Luciana sempre riu dos meus projetos de casamento, papel passado, cerimônia, festa.
Luciana se divertia com a imagem de uma noiva vestida de suspiro e sempre afirmava que aquilo não combinava com ela.
Casei sem vestir branco.
Luciana casou na igreja e estava linda em seu longo e tradicional vestido de noiva.
Luciana estava feliz.
Nunca. Sempre. O definitivo que não existe.
E as doces (e bem-vindas) contradições.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Brisa às sextas

Pela janela, sente soprar a brisa morna que confirma a primavera. Aquela brisa que justifica a classificação do país tropical úmido. A mesma brisa que embaraça os cabelos e se mistura com a maresia, numa dança que invade a pele. Leve. Sobre a mesa, a caneca ainda carrega vestígios do café da manhã. Esquecida? Lapsos de uma vida corrida. Mas não tem problema, hoje é sexta-feira.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Restos

A toalha de rosto não era trocada há duas semanas, mas ninguém parecia se importar com isso. Os respingos de pasta de dente ressecados no espelho reforçavam a sensação de abandono. Sentada sobre o tampo do vaso, olhava as manchas de mofo esparramando-se pelo teto, abraçando as paredes e apropriando-se do espaço. Aquele espaço que já fora de risos, suspiros e promessas. Agarrada aos seus próprios joelhos, sentiu os dedos dos pés, abrigados por meias surradas. Há quanto tempo não fazia um banho de creme naquele cabelo?
Desde que ele passou a chave pela porta, levando meia dúzia de pertences, perdera a vontade de tomar leite. Também já não devorava as geleias nem arriscava abrir o pote de biscoitos, que a essa altura estariam murchos, passados. Também ela vivia de passados.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Noite longa

Presa no congestionamento,
numa noite chuvosa
avisto ao longe a lona do circo
E penso: a palhaça sou eu.

Olho para os lados
e vejo motoristas solitários
pacientes sem paciência
Apinhando-se em toneladas
de motor e lataria.
Sós.
E penso: palhaços somos nós.

Mais sobre o caso Maria Rita

O óbvio se confirmou e Maria Rita Kehl foi demitida do Estadão. Esse jornal que diz defender a liberdade de imprensa. Esse jornal que reclama por sofrer censura.
Ela mesma explica o que não tem explicação, em entrevista aqui.
Lamentável.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Caso Maria Rita

Pessoal,
Está circulando na internet uma informação importante de que a Maria Rita Kehl estaria ameaçada de ser demitida do jornal Estadão _ para o qual escreve semanalmente, no Caderno 2 _ por ter escrito um artigo entitulado Dois pesos, em que elogiava o Bolsa Família, do governo Lula. Corajosamente, Maria Rita aponta os fatores positivos desse programa social, contrariando os interesses do jornal, que esse ano declarou oficialmente apoio ao candidato José Serra.
Ironicamente, o jornal tem posado de vítima de censura, em que estaria impedido de divulgar notícias sobre a operação Boi Barrica, envolvendo o filho do senador José Sarney.
Que liberdade de imprensa é essa que os veículos de comunicação brasileira defendem? Parcial, que só vale para divulgar o que é interessante para eles?

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

No princípio, era a páprica

Semana passada fiz um gulyás. Lê-se gulach, com chiado no final.
Parênteses: sou casada com um filho de húngaros e, de vez em quando, eu me aventuro na cozinha com receitas um tanto "exóticas" para o paladar brasileiro, a começar pelo nome e pela pronúncia. Essa eu aprendi com a sogra, que gentilmente preparou um caderno de receitas para cada um de seus filhos, quando se emanciparam, dando o carinhoso título de "Caderno de Receitas da Mamãe Querida".
Fecha parênteses.
Gulyás nada mais é do que um sopão, feito com carne picadinha, batata, cenoura e um caldo que aquece corpo e alma, muito indicado portanto para dias frios e chuvosos. O segredo, como em qualquer prato, está nos temperos. No caso do gulyás, a páprica é o princípio de tudo.
Outra graça desse prato está num nhoque à base de farinha de trigo que é acrescentado à sopa, no final do preparo, dando a sustância necessária para transformá-la numa refeição completa.
Esse é um dos pratos mais conhecidos (ou menos estranhados) pelos brasileiros. Já vi inúmeras versões de gulyás em restaurantes por aqui, até mesmo nos self services, mas todos muito diferentes daquele que aprendi com a família do maridão.
Talvez essa seja uma daquelas receitas que são apropriadas e modificadas pelas famílias, inclusive na Hungria. Não sei. Quando estive lá, provei um autêntico gulyás e se parecia muito com a receita que eu preparo em casa.
Vamos à receita.

Ingredientes
400 g de carne picadinha (pode ser patinho, coxão mole, filé)
1 colher (sopa) de páprica (há dois tipos, a doce e a apimentada. Eu costumo misturá-las)
3 bolinhas de pimenta do reino
3 batatas picadas
2 cenouras picadas
1 cebola picadinha
1 tomate picadinho (sem pele)
1 colherinha (chá) de sal

Para o nhoque
1 ovo
2 colheres (sopa) farinha de trigo
1 pitada de sal

Preparo
Doure a cebola no óleo quente, junte e páprica e, em seguida, a carne. Frite um pouco e, em seguida, cubra-a com água quente. Acrescente a pimenta do reino, o tomate e a cenoura picada e deixe a carne cozinhar. Quando já estiver molinha, acrescente as batatas e deixe cozinhar. O arremate com o nhoque vem no final. Numa travessa, bata o ovo com a farinha e sal e, com a ajuda de duas colheres, vá jogando cobrinhas da massa na sopa fervente. Sirva a sopa bem quente, acrescida de uma colher rasa (sopa) de vinagre, já no prato.
Delícia!

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Sangue do meu sangue

Menstruou aos nove.
Assaltou o guarda-roupa da mãe em busca do absorvente.
Encontrou também uma camisinha.
_ Com o que se parece?
Enfiou no bolso do uniforme e levou para a escola.
Escondeu-se no banheiro junto da melhor amiga e abriu.
_ Rápido, joga no lixo para ninguém ver.
Mas a mãe de uma aluna viu.
O episódio virou denúncia, os pais foram chamados.
_ Menina, de hoje você não escapa. Prepare-se para apanhar.
E apanhou de cinta. Três vezes. Um "corretivo". Promessa cumprida.

"E eu sangrei / e eu sangrei / antes da hora
E eu sangrei / e eu sangrei / eu sanguei depois da hora
Eu sanguei depois da hora"

(Vida real)

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Revelação



Ontem descobri que o marido da vaca é o... touro!
E que o boi é apenas um amiguinho.
Isso porque ele é castrado. Ou seja, o responsável pela procriação é o touro, vejam só.
Eu juro que não sabia disso.
(Parece que ainda lembro da cartilha de alfabetização citando o notório casamento entre a vaca e o boi!).
Tempos mudados!

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Bolinho para piquenique

Quando recebi o convite para participar de um piquenique comunitário, logo pensei no que poderia levar que agradaria a adultos e crianças. Algo que fosse, ao mesmo tempo, lúdico e prático, que todo mundo pudesse pegar com a mão e sair para um passeio pela praça. Daí lembrei de bolinhos. Desde criança acho divertidas as receitas em miniatura (talvez, por isso, nunca tenha me importado muito em ter ficado baixinha!). Além disso, minha mãe é boleira de mão cheia, suas receitas simples (e às vezes meio melecosas demais pro meu gosto) fazem sucesso na família. Bolo foi uma das primeiras coisas que ela me ensinou a fazer na cozinha.
Dei uma olhada na dispensa e só encontrei cenouras. Decidi, então, fazer bolinhos de cenoura e, para incrementar, acrescentei um quadradinho de chocolate meio amargo no centro da massa, para fazer uma graça.
Descobri, numa lojinha de doces perto do meu trabalho, forminhas de capecake decoradas. Elas são super práticas, porque vão direto ao forno (sem precisar untar) e sem a necessidade de formas de metal para garantir o formato. Está certo que nem todos ficaram redondinhos, depois de assados, mas aceito como parte do trabalho artesanal.
Segue a receita!
PS: Pelo que percebi, fez sucesso no piquenique! Quer ver como ficou? Tem foto no blog do piquenique.

Bolo de cenoura
Ingredientes
3 cenouras parrudas
3/4 xícara de óleo
3 ovos grandes
2 xícaras de farinha de trigo
2 xícaras de açúcar (eu sempre ponho um pouco a menos)
1 colher (sopa) fermento em pó

Preparo
No liquidificador, bata as cenouras, o óleo e os ovos. Reserve. Numa travessa, misture os ingredientes secos (farinha, fermento e açúcar). Em seguida, acrescente a massa do liquidificador e misture tudo muito bem. Numa assadeira grande, organize as forminhas de capecake (6 cm de diâmetro). Em cada uma delas, coloque duas colheres (sopa) da massa do bolo e, por fim, inclua um quadradinho de chocolate. Cuidado para não encher demais as forminhas, porque a massa cresce bem. Asse num forno pré-aquecido por uns 30 min. (ou até dourar).
Mas não se preocupe: caso não encontre dessas forminhas, assa numa forma tradicional (untada e polvilhada) e depois corte quadradinhos. Crianças (e adultos) adoram!

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Sinais

Se passo em frente a um prédio de escritório e avisto, preso à janela, um bebedouro de beija-flor, sei que posso ter esperança no mundo. E na humanidade.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010


Lá as pessoas ocupam as ruas.
Lá há pipoca, algodão doce e churros à venda nas praças.
Lá a pipoca custa um real.
Lá as crianças se divertem juntas
enquanto seus pais batem papo sentados nos bancos.
Lá, aliás, os bancos são confortáveis.
Lá uma orquestra sinfônica se apresenta gratuitamente.
Lá as colchas de retalho têm preços acessíveis.
Lá grupos musicais se apresentam num coreto
enquanto casais dançam livremente.
Lá as pessoas sobem de teleférico
e avistam a cidade, lá do alto,
espalhando-se sobre os morros.
Lá minha família é feliz.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Eu me alimento

Eu me alimento
das conversas paralelas nas filas
da mulher que se maqueia no transporte público
dos ipês em flor
do cheiro de café que escapa da lanchonete
Eu me alimento
do bolo de fubá vendido na banca da rua
e devorado às pressas, no meio do caminho
Eu me alimento dos pedestres que se arriscam
em travessias perigosas
E do casal adolescente que se escora
no muro da escola
enquanto não bate o sinal
Eu me alimento do vento gelado
que corta a bochecha e avermelha o nariz
Da poeira, da fuligem, da lata de refrigerante esquecida na calçada
Eu me alimento da Tuiuti lotada
E da batata frita vendida na porta do shopping
Eu me alimento dos jornais, das revistas, dos sites
e das muitas notícias que quase ninguém lê
Eu me alimento da TV
que exibe rostos maquiados, textos maquiados
Eu me alimento da hora marcada, do som do despertador
E das tardes preguiçosas, sentada no chão, pernas cruzadas
e braços abertos
Eu me alimento do mundo.
E isso, às vezes, é indigesto.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

De pracinhas a shoppings

Como jornalista, sinto um certo constrangimento (o que aprendi a chamar de "vergonha alheia") toda vez que pego uma dessas publicações de bairro. São jornais, revistas e boletins que, em geral, desperdiçam a rica oportunidade de estabelecer uma comunicação mais direcionada e comunitária e que se prezam a anunciar produtos e serviços de estabelecimentos da região.
Que isso ocorra nas peças publicitárias e nas seções de classificados, vá lá. O problema é que as publicações fazem propaganda disfarçada na área editorial, em artigos e reportagens. Claro que o leitor comum não tem obrigação de saber como o jornalismo separa e organiza suas seções. Mas ele sabe diferenciar um anúncio publicitário de um texto informativo, sim.
Ou seja, quando lemos uma reportagem que fica linhas e mais linhas dizendo os benefícios e as vantagens da loja tal, surge essa vergonha alheia e a inevitável pergunta: quanto será que o dono pagou para ocupar esse espaço?
Mesmo assim, folheei uma revista do meu bairro neste fim de semana, correndo todos os riscos de encontrar alguma frustração. Mais do que isso, fiquei foi chocada com uma reportagem apresentando um novo centro de compras recém-inaugurado, com restaurantes, lojas de roupas, mercado de comida natural etc.
Entre uma expressão elogiosa e outra, o texto explicava que aqueles 'street malls' eram tendência e que nos Estados Unidos eram uma experiência consagrada. Dizia que tinham surgido para substituir as antigas pracinhas, com a "vantagem de ser um lugar de consumo, além de espaço de convivência e encontros, já que as praças foram suprimidas com o crescimento das metrópoles".
Aquilo me deprimiu. Quem teria tido a coragem de escrever aquele absurdo? Lógico que não sou contra o comércio; trabalho numa instituição mantida por ele e posso me considerar resultado dele, porque meus pais se conheceram trabalhando com venda de sapatos. Mas o comércio nunca, jamais, substituirá os espaços públicos (e mesmo os privados) de convivência. Aqueles lugares para onde vamos para simplesmente não fazer nada, a não ser jogar conversa fora, observar e contemplar as relações humanas e a natureza.
As praças não foram suprimidas pela urbanização. Seguem vivas e determinantes para as boas relações entre nós, seres humanos (e carentes). Nós nos constituímos no contato e na troca com o outro. E não precisamos de intermediários_ especialmente quando este for o consumo.
Ainda bem que existem muitas pessoas que acreditam nos espaços públicos e que procuram ocupá-lo sempre. Eu sou uma delas. Façamos das praças os nossos quintais. E deixemos para os shoppings e street malls a função primária para os quais foram criados.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

A lua encolheu!

Está na Folha de hoje:
"Sonda da NASA revela novas rachaduras na superfície lunar, que indica que o astro encolheu."
Inevitável: lembrei dos casais apaixonados, que se inspiram nas noites de lua cheia. Lembrei também das serestas interiorzão afora. E das estradas de terra iluminadas apenas pela lua. Pensei nas marés e nos pescadores. Diz a sabedoria popular que uma grávida próxima de parir deve observar a mudança da lua.
A primeira vez que tomei consciência da existência da lua foi no meu aniversário de um ano. Minha mãe conta que preparou uma festa em casa, em noite de lua cheia. Eu, que já andava e começava a falar, notei aquele brilho intenso no céu. Admirada, perguntei o que era. "A lua... a lua", repeti muitas vezes, puxando as barras das saias ou das calças de cada convidado, que achavam graça da descoberta. Virou história da família.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Carta da semana

Preocupada com a enorme lista de tarefas que teria de cumprir até o final do dia, demorou a entender a mensagem que surgia em sua caixa de correios eletrônicos. "Oráculos da Net - Carta da Semana: A Estrela." O dedo sobre o botão delete exitou e decidiu correr o texto da mensagem. Uma carta com fundo cor de rosa mostrava uma mulher nua, numa ilustração que lembrava o Egito. Abaixo, a frase que leu não apenas uma, mas três vezes.
"A esperança vem da consciência que descortina véu a véu e alcança o absoluto."
Como não via sentido, parou um instante breve e olhou pela janela. O sol batia duro nas paredes branco-pálidas dos prédios. Uma mancha marrom podia ser vista no horizonte. Procurou não lamentar a poluição.
Seus olhos se voltaram mais uma vez para o email. O texto seguia, em tom otimista: "É a carta da esperança de algo muito bom acontecendo. Iluminação, reconciliações, ganhos e fim de aborrecimentos." Sorriu até. Lembrou daquele café prometido a um amigo que não encontrava há tempos. Pensou no vaso de violetas no parapeito da janela, que não recebia água desde... Memorizou o rosa choque das azaleias que coloriam a cidade nessa época do ano. Há quanto tempo não tirava férias? Nem sabia mais...
Desejou um imenso sanduíche de queijo derretido e rosbife bem fininho. Ou um generoso pedaço de melancia vermelho-sangue de tão madura. E doce.
Não lembrava de ter cadastrado o endereço eletrônico em sites de astrologia, mas a chegada daquela mensagem certamente era um sinal. Iluminação, reconciliações e até fim de aborrecimentos!
Como o texto ainda seguia, resolveu ir até o fim e ver o que o destino lhe reservava. Havia algo de estranho, no entanto, porque a frase seguinte apenas orientava: "Para ver a previsão completa, faça uma consulta com os Oráculos da Net. Até o final de agosto, ao adquirir um pacote de 20 minutos (R$ 38) você ganha mais cinco".
Frustrada, dispensou a oferta, mas tomou para si os votos de iluminação. Nunca é demais.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

"Catarina descabelada"

Quando soube que eu me casaria com um filho de húngaros, um amigo ainda brincou: "ué, vai casar com o drácula?" Ri, para descontrair, mas é claro que a ansiedade de conhecer os pais do noivo, numa viagem ao Espírito Santo, onde moram, tomava conta de mim há alguns dias. Como seria recebida? Eu, brasileiríssima, festeira e informal, diante dos futuros sogros, de tradição europeia, gestos contidos...
Pegamos o avião e deixamos a fria São Paulo, em direção ao sol e à praia capixaba. Minha sogra parecia adivinhar minha apreensão por esse encontro. Resolveu o problema com sabedoria e delicadeza, preparando uma receita de boas vindas que ela herdara de sua sogra, em 1964. É um bolinho de sabor suave, assado sem fermento, que vai bem com o café passado na hora, costume esse bem brasileiro, por sinal.
Pois é, minha sogra revelou-se tão acolhedora e boa anfritriã quanto qualquer um de nós. Eu me rendia ali, feliz, a essa nova família.
(E lá se vão seis anos).

"Catarina descabelada" (Borzas kati)

Massa
300g farinha de trigo
100g açúcar
100g manteiga
3 gemas
baunilha

Recheio
3 claras em neve
150g de açúcar
3 colheres (sopa) geleia de damasco
150g castanha de caju moída (ou nozes moídas)

Preparo
Primeiro, faça o recheio. Bata as claras em neve. Acrescente o açúcar, a geleia e as castanhas, misturando bem.
Para a massa: misture os ingredientes com a ponta dos dedos. Não sove. A massa deve ficar granulada.
Para montar numa assadeira, ponha metade da massa e compacte de leve. Espalhe o recheio e cubra-a com o restante da massa, apenas espalhando, sem compactar. Asse por 25 minutos.